quinta-feira, 14 de março de 2013

Capítulo Dois: Na casa dele


“As nossas cabeças iam-se aproximando enquanto os nossos olhos se hipnotizavam e os nossos lábios se humedeciam”


A aula de Filosofia passou rapidamente e não voltei a concentrar-me por causa do Rafael, estava sempre a fazer perguntas e a falar comigo. Gostava da atenção que ele me dava, é verdade, mas por vezes conseguia ser muito chato.
Desci as escadas em direção à sala comum. Nos intervalos, os alunos agrupavam-se todos ali, africanos, caucasianos, asiáticos… A minha escola é um bom exemplo de multiculturalismo. Dirigi-me ao meu cacifo e retirei a sacola de Educação Física que tinha deixado ali de manhã.
- Vais fazer física? – Rafael surgiu por detrás de mim.
- Não te parece que sim? – mostrei-lhe a sacola.
- Pois. Vamos indo?
- Estou à espera da Raquel, ela foi à casa-de-banho.
- Ela depois vai lá ter. Anda lá!
- Não, Rafael! Prometi-lhe que esperava. – insisti.
- Como queiras, até já! – pegou na mochila dele e desapareceu no meio da multidão.
Boa. Não me faltava mais nada. Odiava quando ele fazia aquilo, simplesmente amuava comigo quando não lhe fazia as vontades, era uma autêntica criança.
- Filipe, estás bem? – Raquel tinha voltado. – Estás com uma cara esquisita..
- É a minha cara, não tenho outra! – comecei a caminhar em direção aos balneários.
- Ei, calma, eu não te fiz nada! O que é que se passou? – disse ela, acompanhando o meu passo.
- Estou farto do Rafael, estou farto de babar-me por ele quando ele não me merece. Aliás, ele nem é gay ou bi! Estou a gastar a minha alma nisto. Tenho de desistir.
- Sabes bem que o amas e o quão difícil é para ti fazer isso. E depois, nem sabemos se ele é mesmo heterossexual. Eu cá não…
- Nem te atrevas a alimentar os meus sonhos! – cuspi, passando a porta da saída do pavilhão.
- Mas o que é que ele te fez? – perguntou ela preocupada, ignorando completamente o meu resmungo.
- Tipo, ele pediu-me p’ra ir com ele para baixo, mas eu estava á tua espera. Ele amuou.
- Que criança…
- Exactamente!
- Bem, esquece lá isso. Vá até já. – despediu-se, abrindo a porta do balneário feminino.
- Até já. – O que eu gosto mais na Raquel é a capacidade de ouvir as minhas lamúrias, ouvia-me e ouvia-me sem se queixar. A Alex também tinha essa capacidade, e eu retribuo sempre, se não estiver de mau humor.
Abri a porta do balneário e entrei, ainda tinha alguns alunos da turma anterior a saírem dos chuveiros e a vestirem-se. A maioria dos meus colegas já estava pronta. Pousei a sacola e comecei-me a despir. À medida que me despia fui lançando olhares aos rapazes da outra turma. Eram todos bem constituídos, musculados, definidos, com uns rabos lindos, arredondados. Sim, além de ser bissexual, tenho uma panca por cus. É um dos meus defeitos, gosto de rabos, daqueles redondinhos e arrebitados.
Enquanto estava a reparar naquele quadro de deuses gregos à minha frente, reparei que além de mim também o Rafael estava a olhar para eles. Não a olhar, mas a olhar. Quando os nossos olhares se cruzaram, ele desviou o olhar e terminou de calçar-se, levantando-se logo depois, indo na minha direcção. Continuei a despir-me, pegando nos calções para os vestir quando sinto uma palmada no rabo, viro-me e vejo o Rafa a sorrir para mim.
- Despacha-te lá chavalo, já está tudo lá fora. Ou queres ficar aqui a ver os rapazinhos, seu porco? – sussurrou a última frase e piscou-me o olho, indo-se embora.
Terminei de me vestir e quando olhei para os da outra turma, estavam todos a olhar para mim. Saí imediatamente do balneário.
Na aula de Educação Física a stôra decidiu pôr-nos a treinar voleibol, um desporto que eu odeio, não tenho coordenação alguma e depois as piadas dos outros dão-me cabo do sistema nervoso. O relógio parecia que não andava, ainda por cima já tinha os braços todos doridos.
Finamente a tortura tinha terminado e voltámos aos balneários. Despi-me rapidamente, enquanto o Luís ligava os chuveiros para a água aquecer. Peguei no champô e corri para os chuveiros. O chuveiro não é privado, portanto, entre esfregadelas ainda deitava um olho aos meus colegas. Lucas é um rapaz giro, de olhos verdes, cabelo castanho claro, musculado com um rabo esculpido por Eros. Ao lado dele estava o Luís que era magro, mas tinha um corpo mesmo assim definido, os cabelos negros combinavam com a sua pele morena, dando-lhe um ar exótico. Para terminar, tinha também um rabo bem redondo que me fazia babar, literalmente. Depois, à minha frente tinha o Rafael, que esfregava o cabelo, fazendo cair a espuma que, com a água, lhe escorria pelo corpo abaixo. Não era propriamente lindo, mas eu gostava dele, tinha um bom corpo, todo depilado. O rabo dele não era muito redondo, mas mesmo assim tinha vontade de o… de o… bem, de o possuir.
A voz de Lucas interrompeu-me o pensamento:
- Tu não jogas mesmo nada. És um coxo.
- Um coxo! – repetiu Luís.
- É assim eu não gosto daquilo, não tenho jeito para aquilo, ponto final.
- Mas aquilo não tem nada de especial! É só lançares a bola! – insistiu Lucas.
- Eu-Não-Gosto! Entendeste? – virei-me para enxaguar a cabeça.
- És um caso perdido…
- És um coxo! – disse Luís roubando-me um bocado do shampoo.
- Ei! – agarrei-lhe a mão, mas nesse preciso momento Lucas ligou a água fria e apontou o chuveiro na minha direção.
- AH! Puta! – gritei para ele, atirando-lhe com o frasco de shampoo, assim que senti o frio na espinha.
O duche terminou connosco a mandar água gelada uns aos outros e a rir.
Estava-me a acabar de vestir quando o Rafael veio ter comigo, meio cabisbaixo.
- Vens? – os seus olhos castanhos estavam duros e frios como a água do chuveiro.
- Ya. ‘Bora. – peguei na sacola enquanto o seguia em direção à sala.
- Olha… Queres vir a minha casa esta tarde? Tenho um jogo novo para te mostrar. – notava-se um tom de agitação na sua voz.
- Claro. – nem hesitei. Tinha que combinar a saída com a Raquel e a Alex para outro dia, elas iriam compreender, certamente.
-  Fixe. – o chocolate dos seus olhos derreteu-se e por fim sorriu.
O seu pedido surpreendeu-me, já mo tinha prometido antes, mas nunca pensei que me ia realmente convidar.
A aula de Biologia correu rapidamente, estivemos a corrigir uma ficha sobre Darwin e aproveitei para falar sobre a saída da tarde à Raquel e ela, disse que não se importava, ainda um pouco reticente. Quando dei por isso já estava a dar o toque de saída, arrumei as coisas rapidamente quando sinto a mão do Rafael no meu ombro.
- Vamos? – os seus olhos piscavam de alegria, parecia uma criança a abrir os presentes no Natal.
- Espera, deixa-me só despedir do pessoal. – dei um beijo à Raquel e ela piscou-me o olho, encorajando-me. Acenei aos outros e segui em direcção aos cacifos. Troquei alguns livros e peguei na sacola de Educação Física.
- Estás com o fogo no cu, Rafa. – disse eu, apressando-me para o acompanhar na passada.
- É para poupar tempo… - disse ele quase a correr.
- Tempo para quê?
- Tipo não quero desperdiçar tempo, senão não podemos fazer nada.
Fiquei a imaginar o que é que ele queria fazer comigo, no trajeto que fazíamos no autocarro para casa dele. A viagem demorou relativamente pouco tempo.
Saímos do autocarro e subimos a rua em direção a um prédio de três andares numa esquina entre um café e uma mercearia. Ele abriu a porta do prédio e deu-me passagem. Subimos os três lances de escadas e ele abriu a porta de madeira rodando a chave três vezes.
A entrada era um grande corredor que dava acesso às quatro divisões da casa. Ele deixou-me entrar e indicou-me amavelmente o quarto dos pais, a sala, a cozinha (que dava acesso à casa-de-banho) e finalmente o quarto dele. Era um quarto apertado, mas confortável, tinha o armário à entrada, ao lado da cama que estava encostada à parede. No canto estava uma estante cheia de CDs, DVDs e jogos. Ao lado da estante estava a secretária com o portátil em cima.
- Quarto fixe… - disse eu, olhando em volta.
- Obrigado. – fez um sorriso tímido que combinou com o seu tom de voz que para mim era estranho, nunca o tive visto assim tão tímido. – Vamos almoçar?
- Não sabia que íamos almoçar em tua casa.
- Pensavas que íamos almoçar onde? Na casa do vizinho? Anda lá! – caminhou em direção à cozinha e eu segui-o.
Abriu a porta do frigorífico e mostrou-me o conteúdo. Ambos concordámos em comer umas sandes de hambúrguer semelhantes às do McDonald’s, mas daquelas que se compram nas pequenas superfícies comerciais. Ele começou a preparar tudo e pediu-me para por a mesa enquanto aquecia as sandes. Assim o fiz. Parecia que morávamos juntos, parecíamos irmãos (isto pra não dizer amantes), a sensação era muito boa.
Quando ele finalmente trouxe os pratos para a mesa pudemos comer enquanto riamos com os Simpsons que estavam a dar na Fox. Terminámos de comer e arrumámos tudo, ele pôs a loiça no lavatório e eu levantei a mesa.
Depois de tudo arrumado fomos então para o quarto dele. Ligou o portátil e foi buscar uma cadeira para eu me sentar ao seu lado.
Estar assim tão perto dele, com as nossas pernas a tocarem-se dava-me arrepios na espinha e ainda mais pelo facto de ele falar comigo com as nossas caras tão perto uma da outra. 
Lá me mostrou o jogo e ainda jogámos um pouco, deu para ele gozar comigo pelos meus dotes a jogar jogos de FPS.
Após passarmos uma hora a jogar e a rir, levantei-me na cadeira e sentei-me na cama dele:
- Rafa, posso-te perguntar uma coisa?
- Ya, fala. Posso só meter uma música? Baixinho? – assenti com a cabeça e ele pôs a The Silence de Alexandra Burke a tocar num volume baixo, tal como prometera. Saiu da cadeira e sentou-se na cama, ao meu lado, sério. – Fala, puto.
“Boa, não só me bastava a música romântica como também se estava a aproximar de mim, isto é fantástico!”, pensei para mim mesmo.
- Tu… quando a Alexandra te contou que eu era bissexual, qual foi a tua primeira reação?
- Normal, tipo por mim, desde que sejas feliz podes gostar de quem quiseres. Não é da minha conta, eu não ligo a essas merdas.
- Oh… que querido… - as palavras escaparam-se-me pela boca sem que eu tivesse tempo de as impedir. Ele limitou-se a dar uma gargalhada e a aproximar-se mais de mim.
- Continuas a ser meu amigo, seja qual for a tua orientação sexual. Gosto de ti à mesma. – sorriu.
Não gostava do rumo que a conversa estava a tomar, se calhar até gostava, mas havia algo de estranho.
So say you love me, or say you need me. Don't let the silence do the talking.
O silêncio estava-se a tornar demasiado constrangedor, a música ecoava no quarto e na minha mente. Os seus olhos fintavam os meus, aquele castanho achocolatado estava-me a derreter a alma, levando-me quase a lançar um suspiro.
Just say you want me, or you don't need me. Don't let the silence do the talking.
As nossas cabeças iam-se aproximando enquanto os nossos olhos se hipnotizavam e os nossos lábios se humedeciam. Ele estava perto, bastante perto, sentia o seu bafo na minha boca, os nossos narizes a poucos centímetros de distância. Ele continuava a aproximar-se, fechei os olhos e senti o seu bafo ainda mais próximo assim como o seu beijo.
O vibrar do telemóvel dele sobre a secretária de madeira fez-nos saltar aos dois. Os nossos lábios nem se chegaram a tocar, nem as nossas línguas a enrolar.
Ele saltou da cama e foi em direção ao telemóvel para ler a mensagem.
- É a minha namorada…
Ah sim, além de ser heterossexual, tem namorada, apesar de me ter quase beijado há três segundos atrás.
- Bem, vou andando… - peguei nas minhas coisas e dirigi-me à porta.
- Espera… Ainda tenho mais uns jogos para te mostrar.
- Não posso, já é tarde. – sem mais qualquer palavra, sai de casa dele.
Não me importava se o tinha magoado, ele tinha-me feito o mesmo. Ao menos de uma coisa tenho a certeza, ele não era completamente heterossexual. Havia uma réstia de esperança.


14 comentários:

  1. Adorei o suspence, a ansiedade. Mas o Rafael dá-me uma vontade doida de bater com a testa na parede, não sei porquê... XD Mas continua que eu quero ler maaais :P

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  2. man que lindo!

    tens talento Lobo!

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  3. Pode ver o próximo capítulo, que quero ler já! :P

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  4. Ahh, estou gostando =3. Cheguei no blog há pouco tempo. Lembre-se que a esperança é a penúltima que morre, então continue.

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  5. Uau! Escreves mesmo muito bem, estou a adorar a história!
    Qando saí o próximo capítulo? :D

    R: Lamento desiludir-te, mas é uma frase que o Albus Dumbledore diz em "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban". :)

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  6. Bom, as coisas estão a aquecer :P
    Estás a esmerar-te, este capitulo está mais bem escrito que o anterior e mais sugestivo também. Parabéns! Agora venha lá o 3º capitulo...
    Abraço Lobo.

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  7. Bem, as coisas estão mesmo a aquecer! Esteve quase, quase!

    Queremos o próximo capítulo. *.*

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  8. r: tipo o quê? :/
    e ya tb tenho um bocado de preconceito

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  9. já saiu o prólogo e a capa :D

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  10. wow, boa! ele está caidinho. vais com calma e ele acaba por esquecer a namorada. parece-me que é tudo novo para ele.
    é tudo tão bom quando é assim, tudo natural. boa sorte com isto!
    anyway, sou como tu... nada como um bom rabo.

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  11. God, nao sei porquê mas tenho a sensação que estas a relatar a minha historia com o meu amigo. Tirando um pormenor ou outro, é tal e qual. Até mesmo a parte FPS e musica romântica. Parabens, continua.

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    1. Tenho a confessar que algumas coisas aconteceram comigo.

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Váááá, escreve lá no que estás a pensar, vá lááá, não sejas preguiçoso. :x