“Sentir o calor da sua boca e a sua língua a enrolar-se na minha era fantástico e indescritível. Este devia ter sido o nosso primeiro beijo.”
Se o olhar matasse, o Rafael já estava morto. O seu à-vontade e descontração estavam a irritar-me, era como se não nos tivéssemos quase beijado. Ele reagiu como se nada tivesse acontecido. O meu olhar fuzilante trespassava-o cada vez que o via e ele fazia-se de desentendido. Estava quase a passar-me.
- Lipe? – a voz de Filipa interrompeu a minha reflexão sobre maneiras de torturar o Rafael.
- Sim, diz.
- Era só para te relembrar que a minha festa é esta sexta, no Éden. Vais, não vais?
- Sim, sim, claro…
- Estás bem? Não me digas que ainda estás assim por causa do teu quase-beijo com o Rafael.
- É que foi mesmo quase! Estou irritado pela maneira como ele está a lidar com isto, indiferente…
- Tens a certeza que isso aconteceu mesmo? Não terás sonhado?
- Não! Sei perfeitamente que foi real!
- Ok, ok, desculpa. Mas olha não há nada que uma bela garrafa de Putinoff não resolva. – disse, dando-me uma palmada no omoplata. - E sexta está já ai.
O toque soou mas eu continuei a falar com a Filipa, num canto ao pé dos cacifos, até que o Rafael nos interrompe.
- Então vamos para a nossa aulinha de Biologia?
- Não sei, talvez. Estou um pouco indeciso!- acentuei bruscamente a última palavra e saí em passo rápido em direção à sala de aula.
- Ei mano, o que é que eu te fiz para me falares assim? – disse ele, ao sentar-se no lugar da Raquel ao meu lado.
- Nada, Rafa, nada!
- Então porque me falas assim?
- Olha, esquece, ok?
A Raquel chegou e ficou a olhar para nós os dois, confusa. Foi então que ele se levantou e dirigiu-se para o seu lugar, deixando a cadeira livre para ela.
- Problemas? – perguntou ela, preocupada
- Foi por causa daquilo que eu te disse ontem. Ele está indiferente.
- Ele agora parece-me bastante abatido. – disse ao olhar para ele. Tinha a cabeça pousada na mochila sobre a mesa, com um ar pensativo.
- Por mim, pode morrer com um pau enfiado no cu, já que ele, secretamente, gosta!
- Sabes bem que não queres dizer isso. Ele só está entalado no armário e necessita de ti para o tirares de lá.
- Bem pode continuar lá entalado! – terminei a conversa, tomando atenção na apresentação projetada no quadro sobre as Teorias da Evolução.
Sexta-feira tinha chegado incrivelmente depressa. Eram 18 horas e ainda estava a começar a preparar-me. Tomei um duche rápido, fiz a barba, vesti uma roupa confortável e adequada para a noite: umas calças skinny e uma t-shirt. Penteei-me e quando eram 19 horas já estava à porta do meu prédio à espera da Filipa e dos seus pais que me iriam dar boleia.
Rapidamente chegámos ao ponto de encontro e juntamo-nos ao resto do grupo. Seguimos para a pizzaria onde seria o jantar.
Depois de nos deliciarmos com as maravilhas da cozinha italiana, entregámos os presentes à Filipa (ela adorou os brincos que lhe dei) e dirigimo-nos ao bar onde iriamos passar o resto da noite, o Éden. Era um bar simpático, tinha música, bebida e bom ambiente, era o que nós precisávamos.
Quando dei por mim já estava sentado ao balcão do bar a beber o quinto copo de vodka com sumo de laranja. A animação que tinha ganho no jantar começava a desvanecer-se.
- Então panisgas, já a beber? – brincou o Lucas, sentando-se num banco ao lado do meu.
- A afogar as mágoas…
- Oh, deixa-te dessas merdas e anda dançar comigo.
- Depois eu é que sou panisgas… - disse enquanto o Lucas me puxava pelo braço para a pista de dança, a rir-se.
Dancei com o Lucas, com a Filipa, com a Bianca, com a Raquel, com a Alex e com a Cláudia. A dança estava-me a fazer bem, sentia-me mais animado.
Foi então que vi o Rafael sentado numa mesa acompanhado de uns sete copos vazios. O álcool que tinha no sangue ajudou-me na decisão de ir ter com ele.
- Então, Rafa, que tens? Devias estar ali a animar a festa.
Ele continuou a olhar para o copo vazio.
- Desculpa se tenho sido um aziado contigo esta semana. – as palavras saiam-me tão fluidamente que nem tinha tempo de as pensar.
Ele tirou o olhar do copo e focou-o em mim.
- A Liliana deixou-me. Acabámos.
- Tu e a Liliana acabaram?! – tentei manter um tom surpreendido, mas na verdade não estava, ela era uma porca.
- Sim, trocou-me por outro. Disse-me que eu nunca lhe dava atenção e que não a merecia. - disse num tom pesaroso.
- Queres ir dar uma volta lá fora para apanhar ar?
Ele acenou com a cabeça e seguiu-me até ao exterior do bar. Achámos um banco um pouco afastado e sentámo-nos. Havia uma brisa fresca e não estava ninguém na rua à exceção de nós os dois.
De repente, o Rafael abraça-me e começa a chorar no meu ombro.
- Eu gostava mesmo dela, Filipe, gostava mesmo. – disse entre soluções e lágrimas.
- Eu sei, eu sei… - meio reticente, chocado e culpado, lá o abracei e confortei.
É então que ele levanta a cabeça e olha-me nos olhos. Ver aqueles olhos cor de avelã olharem assim para mim fez com que toda aquela raiva desaparecesse sendo substituída por borboletas no estômago.
Foi nesse momento que senti os seus lábios tocarem os meus. Este sim era um beijo verdadeiro, real, completo.
Ele abriu um pouco mais a sua boca e eu deixei-me levar, fazendo com que as nossas bocas se encaixassem perfeitamente. Sentir o calor da sua boca e a sua língua a enrolar-se na minha era fantástico e indescritível.
Ele afasta-se e olha para a minha cara de surpresa e ao mesmo tempo de felicidade.
- Acho que estou tão bêbado que não consigo ir para casa sozinho, levas-me?
O sentimento de culpa voltara a apoderar-se de mim.
- Não sei se posso...
- Oh vá lá! Se quiseres podes até dormir lá.
A ver o seu estado com mais atenção lá concordei e chamei um táxi, dando-lhe a morada que tinha conseguido arrancar do Rafael entre risos e parvoíces.
Chegados a casa dele, despi-o e pu-lo na banheira, dando-lhe um banho de água fria com bastante dificuldade devido à sua resistência e queixumes, Tu queres é ver-me a pilinha, seu malandro!
Sequei-o e deitei-o na cama, completamente nu.
Tirei a minha t-shirt e as calças sujas pelo vomitado que não aguentou até casa e deitei-me numa cama improvisada de cobertores e mantas que tinha encontrado no armário dele.
Apenas de boxers vestidos comecei a ter frio, mesmo com as mantas a cobrirem-me, e a minha respiração começou a ficar mais ofegante.
- Se quiseres podes vir deitar-te aqui comigo, assim aquecemos os dois. – disse ele na cama ao meu lado.
Um pouco hesitante e ainda com o pulsar do sentimento de culpa, deitei-me na cama dele a seu lado.
Ele rapidamente se aconchega ao meu lado acabando por dizer, antes de adormecer:
- Gosto muito de ti, Filipe.
Devido ao cansaço e às emoções fortes também acabei por adormecer, ignorando o facto de sentir as suas partes a roçarem na minha perna e ter algo mais que culpa a pulsar dentro dos meus boxers.
Quando acordei o Rafael estava de costas para mim e aproveitei para me levantar, tomei banho, vesti umas roupas emprestadas e comecei a preparar o pequeno-almoço.
- Bom dia. – exclama Rafael à porta da cozinha já com uns boxers vestidos e um ar ensonado, surpreendendo-me.
Vou na sua direção com um ar radiante mas é então que reparo na sua expressão confusa e paro.
- Lembraste de alguma coisa de ontem à noite?
- Hum, não, acho que estava demasiado bêbado. – disse, coçando a cabeça.
- Pois também me parece, porque estiveste a chorar ao meu ombro, beijaste-me e ainda dormimos juntos. – disse sem dó nem piedade, ignorando a sua cara de choque.
- Uou… Tenho mesmo de ter cuidado com a bebida. Mas espera aí… como assim dormimos juntos?!
- Tá descansado, só dormimos. Mas se fosse a ti tinha cuidado, ainda és enrabado. – voltei para o fogão, descarregando a minha raiva nos ovos mexidos.
PS: Desculpem o atraso!
OMG, eu nem sei se queria estar no lugar do Filipe ou não, foi tudo tão bom e tão mau ao mesmo tempo.
ResponderEliminarPARABÉNS!
desculpa mas isto foi.. perfeito. não te queixes, estás a passar por uma história muito boa!
ResponderEliminaré certo que sentes a culpa por causa da namorada dele e tal mas ela também não o merecia. aproveita a tua oportunidade, não penses demasiado nas coisas, simplesmente deixa-te ir :)
Estou a adorar a história e a evolução das coisas! Gosto imenso dos pormenores e de todo o enredo em si. Há detalhes, há carinho e ternura, sobretudo entre os dois. Foi uma boa forma de ele esquecer aquela namorada. :D O Filipe é que deve se sentir nas nuvens agora!
ResponderEliminarp.s.: As skinny jeans são sempre imprescindíveis no jogo da sedução, ahah xD
Porque é que achas que eu adoro as skinny jeans? ^^
EliminarAdorei esta 3ª parte! A história está a aquecer :P
ResponderEliminarAbraço Lobo! :)