“As nossas cabeças iam-se aproximando enquanto os nossos
olhos se hipnotizavam e os nossos lábios se humedeciam”
A aula de Filosofia passou
rapidamente e não voltei a concentrar-me por causa do Rafael, estava sempre a
fazer perguntas e a falar comigo. Gostava da atenção que ele me dava, é verdade,
mas por vezes conseguia ser muito chato.
Desci as escadas em direção à
sala comum. Nos intervalos, os alunos agrupavam-se todos ali, africanos,
caucasianos, asiáticos… A minha escola é um bom exemplo de multiculturalismo.
Dirigi-me ao meu cacifo e retirei a sacola de Educação Física que tinha deixado
ali de manhã.
- Vais fazer física? – Rafael
surgiu por detrás de mim.
- Não te parece que sim? –
mostrei-lhe a sacola.
- Pois. Vamos indo?
- Estou à espera da Raquel, ela
foi à casa-de-banho.
- Ela depois vai lá ter. Anda lá!
- Não, Rafael! Prometi-lhe que
esperava. – insisti.
- Como queiras, até já! – pegou
na mochila dele e desapareceu no meio da multidão.
Boa. Não me faltava mais nada.
Odiava quando ele fazia aquilo, simplesmente amuava comigo quando não lhe fazia
as vontades, era uma autêntica criança.
- Filipe, estás bem? – Raquel
tinha voltado. – Estás com uma cara esquisita..
- É a minha cara, não tenho
outra! – comecei a caminhar em direção aos balneários.
- Ei, calma, eu não te fiz nada!
O que é que se passou? – disse ela, acompanhando o meu passo.
- Estou farto do Rafael, estou
farto de babar-me por ele quando ele não me merece. Aliás, ele nem é gay ou bi!
Estou a gastar a minha alma nisto. Tenho de desistir.
- Sabes bem que o amas e o quão
difícil é para ti fazer isso. E depois, nem sabemos se ele é mesmo
heterossexual. Eu cá não…
- Nem te atrevas a alimentar os
meus sonhos! – cuspi, passando a porta da saída do pavilhão.
- Mas o que é que ele te fez? –
perguntou ela preocupada, ignorando completamente o meu resmungo.
- Tipo, ele pediu-me p’ra ir com
ele para baixo, mas eu estava á tua espera. Ele amuou.
- Que criança…
- Exactamente!
- Bem, esquece lá isso. Vá até
já. – despediu-se, abrindo a porta do balneário feminino.
- Até já. – O que eu gosto mais
na Raquel é a capacidade de ouvir as minhas lamúrias, ouvia-me e ouvia-me sem
se queixar. A Alex também tinha essa capacidade, e eu retribuo sempre, se não
estiver de mau humor.
Abri a porta do balneário e
entrei, ainda tinha alguns alunos da turma anterior a saírem dos chuveiros e a
vestirem-se. A maioria dos meus colegas já estava pronta. Pousei a sacola e
comecei-me a despir. À medida que me despia fui lançando olhares aos rapazes da
outra turma. Eram todos bem constituídos, musculados, definidos, com uns rabos
lindos, arredondados. Sim, além de ser bissexual, tenho uma panca por cus. É um
dos meus defeitos, gosto de rabos, daqueles redondinhos e arrebitados.
Enquanto estava a reparar naquele
quadro de deuses gregos à minha frente, reparei que além de mim também o Rafael
estava a olhar para eles. Não a olhar, mas a
olhar. Quando os nossos olhares se
cruzaram, ele desviou o olhar e terminou de calçar-se, levantando-se logo
depois, indo na minha direcção. Continuei a despir-me, pegando nos calções para
os vestir quando sinto uma palmada no rabo, viro-me e vejo o Rafa a sorrir para
mim.
- Despacha-te lá chavalo, já está tudo lá fora. Ou queres
ficar aqui a ver os rapazinhos, seu porco? – sussurrou a última frase e
piscou-me o olho, indo-se embora.
Terminei de me vestir e quando
olhei para os da outra turma, estavam todos a olhar para mim. Saí imediatamente
do balneário.
Na aula de Educação Física a
stôra decidiu pôr-nos a treinar voleibol, um desporto que eu odeio, não tenho
coordenação alguma e depois as piadas dos outros dão-me cabo do sistema
nervoso. O relógio parecia que não andava, ainda por cima já tinha os braços
todos doridos.
Finamente a tortura tinha
terminado e voltámos aos balneários. Despi-me rapidamente, enquanto o Luís
ligava os chuveiros para a água aquecer. Peguei no champô e corri para os
chuveiros. O chuveiro não é privado, portanto, entre esfregadelas ainda deitava
um olho aos meus colegas. Lucas é um rapaz giro, de olhos verdes, cabelo
castanho claro, musculado com um rabo esculpido por Eros. Ao lado dele estava o
Luís que era magro, mas tinha um corpo mesmo assim definido, os cabelos negros
combinavam com a sua pele morena, dando-lhe um ar exótico. Para terminar, tinha
também um rabo bem redondo que me fazia babar, literalmente. Depois, à minha
frente tinha o Rafael, que esfregava o cabelo, fazendo cair a espuma que, com a
água, lhe escorria pelo corpo abaixo. Não era propriamente lindo, mas eu
gostava dele, tinha um bom corpo, todo depilado. O rabo dele não era muito
redondo, mas mesmo assim tinha vontade de o… de o… bem, de o possuir.
A voz de Lucas interrompeu-me o
pensamento:
- Tu não jogas mesmo nada. És um
coxo.
- Um coxo! – repetiu Luís.
- É assim eu não gosto daquilo,
não tenho jeito para aquilo, ponto final.
- Mas aquilo não tem nada de
especial! É só lançares a bola! – insistiu Lucas.
- Eu-Não-Gosto! Entendeste? –
virei-me para enxaguar a cabeça.
- És um caso perdido…
- És um coxo! – disse Luís
roubando-me um bocado do shampoo.
- Ei! – agarrei-lhe a mão, mas
nesse preciso momento Lucas ligou a água fria e apontou o chuveiro na minha
direção.
- AH! Puta! – gritei para ele,
atirando-lhe com o frasco de shampoo,
assim que senti o frio na espinha.
O duche terminou connosco a
mandar água gelada uns aos outros e a rir.
Estava-me a acabar de vestir
quando o Rafael veio ter comigo, meio cabisbaixo.
- Vens? – os seus olhos castanhos
estavam duros e frios como a água do chuveiro.
- Ya. ‘Bora. – peguei na sacola
enquanto o seguia em direção à sala.
- Olha… Queres vir a minha casa
esta tarde? Tenho um jogo novo para te mostrar. – notava-se um tom de agitação
na sua voz.
- Claro. – nem hesitei. Tinha que
combinar a saída com a Raquel e a Alex para outro dia, elas iriam compreender,
certamente.
- Fixe. – o chocolate dos seus olhos derreteu-se
e por fim sorriu.
O seu pedido surpreendeu-me, já mo
tinha prometido antes, mas nunca pensei que me ia realmente convidar.
A aula de Biologia correu
rapidamente, estivemos a corrigir uma ficha sobre Darwin e aproveitei para
falar sobre a saída da tarde à Raquel e ela, disse que não se importava, ainda
um pouco reticente. Quando dei por isso já estava a dar o toque de saída, arrumei
as coisas rapidamente quando sinto a mão do Rafael no meu ombro.
- Vamos? – os seus olhos piscavam
de alegria, parecia uma criança a abrir os presentes no Natal.
- Espera, deixa-me só despedir do
pessoal. – dei um beijo à Raquel e ela piscou-me o olho, encorajando-me. Acenei
aos outros e segui em direcção aos cacifos. Troquei alguns livros e peguei na
sacola de Educação Física.
- Estás com o fogo no cu, Rafa. –
disse eu, apressando-me para o acompanhar na passada.
- É para poupar tempo… - disse
ele quase a correr.
- Tempo para quê?
- Tipo não quero desperdiçar
tempo, senão não podemos fazer nada.
Fiquei a imaginar o que é que ele
queria fazer comigo, no trajeto que fazíamos no autocarro para casa dele. A
viagem demorou relativamente pouco tempo.
Saímos do autocarro e subimos a
rua em direção a um prédio de três andares numa esquina entre um café e uma
mercearia. Ele abriu a porta do prédio e deu-me passagem. Subimos os três
lances de escadas e ele abriu a porta de madeira rodando a chave três vezes.
A entrada era um grande corredor
que dava acesso às quatro divisões da casa. Ele deixou-me entrar e indicou-me
amavelmente o quarto dos pais, a sala, a cozinha (que dava acesso à
casa-de-banho) e finalmente o quarto dele. Era um quarto apertado, mas
confortável, tinha o armário à entrada, ao lado da cama que estava encostada à
parede. No canto estava uma estante cheia de CDs, DVDs e jogos. Ao lado da
estante estava a secretária com o portátil em cima.
- Quarto fixe… - disse eu,
olhando em volta.
- Obrigado. – fez um sorriso
tímido que combinou com o seu tom de voz que para mim era estranho, nunca o
tive visto assim tão tímido. – Vamos almoçar?
- Não sabia que íamos almoçar em
tua casa.
- Pensavas que íamos almoçar
onde? Na casa do vizinho? Anda lá! – caminhou em direção à cozinha e eu
segui-o.
Abriu a porta do frigorífico e
mostrou-me o conteúdo. Ambos concordámos em comer umas sandes de hambúrguer
semelhantes às do McDonald’s, mas
daquelas que se compram nas pequenas superfícies comerciais. Ele começou a
preparar tudo e pediu-me para por a mesa enquanto aquecia as sandes. Assim o
fiz. Parecia que morávamos juntos, parecíamos irmãos (isto pra não dizer
amantes), a sensação era muito boa.
Quando ele finalmente trouxe os
pratos para a mesa pudemos comer enquanto riamos com os Simpsons que estavam a dar na Fox.
Terminámos de comer e arrumámos tudo, ele pôs a loiça no lavatório e eu
levantei a mesa.
Depois de tudo arrumado fomos
então para o quarto dele. Ligou o portátil e foi buscar uma cadeira para eu me
sentar ao seu lado.
Estar assim tão perto dele, com
as nossas pernas a tocarem-se dava-me arrepios na espinha e ainda mais pelo
facto de ele falar comigo com as nossas caras tão perto uma da outra.
Lá me mostrou o jogo e ainda
jogámos um pouco, deu para ele gozar comigo pelos meus dotes a jogar jogos de
FPS.
Após passarmos uma hora a jogar e
a rir, levantei-me na cadeira e sentei-me na cama dele:
- Rafa, posso-te perguntar uma
coisa?
- Ya, fala. Posso só meter uma
música? Baixinho? – assenti com a cabeça e ele pôs a The Silence de Alexandra Burke a tocar num volume baixo, tal como
prometera. Saiu da cadeira e sentou-se na cama, ao meu lado, sério. – Fala,
puto.
“Boa, não só me bastava a música
romântica como também se estava a aproximar de mim, isto é fantástico!”, pensei
para mim mesmo.
- Tu… quando a Alexandra te
contou que eu era bissexual, qual foi a tua primeira reação?
- Normal, tipo por mim, desde que
sejas feliz podes gostar de quem quiseres. Não é da minha conta, eu não ligo a
essas merdas.
- Oh… que querido… - as palavras
escaparam-se-me pela boca sem que eu tivesse tempo de as impedir. Ele
limitou-se a dar uma gargalhada e a aproximar-se mais de mim.
- Continuas a ser meu amigo, seja
qual for a tua orientação sexual. Gosto de ti à mesma. – sorriu.
Não gostava do rumo que a
conversa estava a tomar, se calhar até gostava, mas havia algo de estranho.
So say you love me, or
say you need me. Don't let the silence do the talking.
O silêncio estava-se a tornar demasiado
constrangedor, a música ecoava no quarto e na minha mente. Os seus olhos
fintavam os meus, aquele castanho achocolatado estava-me a derreter a alma,
levando-me quase a lançar um suspiro.
Just say you want me,
or you don't need me. Don't let the silence do the talking.
As nossas cabeças iam-se
aproximando enquanto os nossos olhos se hipnotizavam e os nossos lábios se
humedeciam. Ele estava perto, bastante perto, sentia o seu bafo na minha boca,
os nossos narizes a poucos centímetros de distância. Ele continuava a
aproximar-se, fechei os olhos e senti o seu bafo ainda mais próximo assim como
o seu beijo.
O vibrar do telemóvel dele sobre
a secretária de madeira fez-nos saltar aos dois. Os nossos lábios nem se
chegaram a tocar, nem as nossas línguas a enrolar.
Ele saltou da cama e foi em
direção ao telemóvel para ler a mensagem.
- É a minha namorada…
Ah sim, além de ser heterossexual,
tem namorada, apesar de me ter quase beijado há três segundos atrás.
- Bem, vou andando… - peguei nas
minhas coisas e dirigi-me à porta.
- Espera… Ainda tenho mais uns
jogos para te mostrar.
- Não posso, já é tarde. – sem
mais qualquer palavra, sai de casa dele.
Não me importava se o tinha
magoado, ele tinha-me feito o mesmo. Ao menos de uma coisa tenho a certeza, ele
não era completamente heterossexual. Havia uma réstia de esperança.
Adorei o suspence, a ansiedade. Mas o Rafael dá-me uma vontade doida de bater com a testa na parede, não sei porquê... XD Mas continua que eu quero ler maaais :P
ResponderEliminarman que lindo!
ResponderEliminartens talento Lobo!
Pode ver o próximo capítulo, que quero ler já! :P
ResponderEliminarAhh, estou gostando =3. Cheguei no blog há pouco tempo. Lembre-se que a esperança é a penúltima que morre, então continue.
ResponderEliminarUau! Escreves mesmo muito bem, estou a adorar a história!
ResponderEliminarQando saí o próximo capítulo? :D
R: Lamento desiludir-te, mas é uma frase que o Albus Dumbledore diz em "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban". :)
Daqui a duas semanas.
EliminarPois é O: que vergonha :c
Bom, as coisas estão a aquecer :P
ResponderEliminarEstás a esmerar-te, este capitulo está mais bem escrito que o anterior e mais sugestivo também. Parabéns! Agora venha lá o 3º capitulo...
Abraço Lobo.
Acho que cada capítulo é melhor que o outro.
EliminarBem, as coisas estão mesmo a aquecer! Esteve quase, quase!
ResponderEliminarQueremos o próximo capítulo. *.*
r: tipo o quê? :/
ResponderEliminare ya tb tenho um bocado de preconceito
já saiu o prólogo e a capa :D
ResponderEliminarwow, boa! ele está caidinho. vais com calma e ele acaba por esquecer a namorada. parece-me que é tudo novo para ele.
ResponderEliminaré tudo tão bom quando é assim, tudo natural. boa sorte com isto!
anyway, sou como tu... nada como um bom rabo.
God, nao sei porquê mas tenho a sensação que estas a relatar a minha historia com o meu amigo. Tirando um pormenor ou outro, é tal e qual. Até mesmo a parte FPS e musica romântica. Parabens, continua.
ResponderEliminarTenho a confessar que algumas coisas aconteceram comigo.
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