sábado, 15 de junho de 2013

Capítulo Cinco: Verdade (Parte 1)


“Não era verdade. Ele estava a gozar comigo, a brincar com os meus sentimentos de novo. Mas então olhei-o nos olhos e percebi que era verdade”

Estava nas Urgências. Com um dedo partido. Sentado ao lado do Rafael, que tinha também o nariz partido. Desde a nossa “discussão” que não nos falávamos.
- Desculpa. – disse, finalmente, Rafael, olhando o chão branco do hospital.
Permaneci calado, curioso para ver até onde ele chegaria.
- Fui um otário, não te deveria ter dito aquelas coisas.
- Mas disseste! – disse num tom baixo, um pouco brusco.
- Eu sei, estava furioso. – seguiu-se uma pausa – Tu confundes-me.
- Ah, agora eu é que te confundo? Tens cá uma graça, Rafael. – o tom irónico na minha voz parecia uma faca afiada a trespassar-lhe o peito.
- Eu… - seguiu-se outra pausa, mais longa que a anterior – Eu gosto de ti.
Não era verdade. Ele estava a gozar comigo, a brincar com os meus sentimentos de novo. Mas então olhei-o nos olhos e percebi que era verdade. Aquele brilho e esplendor era impossível de imitar.
- Tens a certeza que é desse gostar a que te referes?
- Sim… tentei-me convencer do contrário mas não consigo. És especial, gosto de ti, gosto de estar contigo, fazes-me sentir bem. E és rapaz.
- Lá está, “e sou rapaz”. – repeti.
- Já não me importo se és rapaz ou rapariga ou se sou heterossexual, homossexual ou bissexual. Eu só sei que gosto de ti e não me vou esforçar mais a tentar-me convencer do contrário.
Olhei em frente para a parede branca coberta com panfletos preventivos sobre a Gripe A e a dengue. Ainda não conseguia acreditar nele, depois de tanta coisa que ele me fez passar.
Ele volta a olhar para o vazio, calado durante um tempo. Respira fundo e vira a cara na minha direção, aproxima-se lentamente e beija-me a bochecha.
Sentir os seus lábios quentes na minha face fez-me esquecer todas as dúvidas. Virei-me e beijei-o nos lábios sem pudor. Estávamos sóbrios, não havia nada a iludir os nossos sentimentos, era a mais pura verdade.
Ele afastou-se, olhando para trás de mim e eu virei-me reparando no homem que se tinha afastado de nós com repulsa.
- Que se lixem! – exclamou Rafael ao dar-me a mão, sorridente.
- Rafael, tens a certeza de tudo isto? Não me magoes, por favor.
- Sim, tenho. Confia em mim. – disse, acariciando-me a mão. É então que ele olha para a porta das Urgências e larga-me a mão, subitamente. Sigo-lhe o olhar e reparo que é o pai dele a entrar. É um homem alto, robusto, bastante parecido com ele.
- Então, as meninas já fizeram as pazes? – disse ele num tom juncoso.
- Pai… - resmungou Rafael.
- Oh, vá lá! Não vão estragar a vossa amizade por causa de uma rapariga, pois não? Há por aí muitas à solta.
Olhei para o Rafael e este esbugalhou-me os olhos de modo advertido.
- Exato, raparigas há muitas… - tentei rir, mas sem sucesso.
- Bem… É melhor ir. Falamos depois. – deu-me uma palmadinha no ombro e piscou-me o olho. O pai dele acenou-me, desejou-me as melhoras e partiram os dois.
Fiquei a refletir sobre o que se tinha passado um bocado até que a minha mãe, recém-chegada de Praga, me veio buscar para irmos para casa.
Já em casa, no quarto, refleti sobre toda a minha história com o Rafael: conhecemo-nos no ensino básico, éramos colegas de turma. Por casualidade tornámo-nos amigos, eu gostava dele, era engraçado, amigo e especialmente giro. Fiquei mais interessado nele quando os nossos olhares se começaram a cruzar consecutivamente, era estranho mas ao mesmo tempo bom para mim.
A nossa amizade intensificou-se quando entrámos no secundário e passámos a ser melhores amigos, estávamos sempre juntos a falar sobre nós, sobre os outros, sobre raparigas (até me ajudou a arranjar uma) e sobre a escola. Assim como a nossa relação, o meu interesse por ele tinha aumentado e havia certas ações da parte dele, como os olhares e as aproximações, que me fizeram duvidar da sua orientação sexual e me punham cada vez mais confuso.
Foi nos anos da Raquel, quando levei um namorado meu que o Rafael começou a desconfiar de mim. Perguntou à Alexandra e esta contou-lhe que eu era bissexual. Mais tarde, quando falei com ele, mostrou-se compreensivo e tolerante, nas suas palavras “cada um tinha direito a amar quem quisesse”. Com isto tinha subido mais uns pontos na minha consideração e amizade.
Após a descoberta, as minhas insinuações para ele tornaram-se mais frequentes com olhares, toques, braços sobre os ombros, festas no cabelo e abraços, mas em vão. Ele era impenetrável.
Mas agora, tínhamo-nos beijado, tínhamos dado as mãos e ele tinha dito que gostava de mim. Não conseguia ignorar a insanidade de tudo isto e a reviravolta dos acontecimentos.
A figura da minha mãe à porta do meu quarto, interrompeu-me a linha de pensamento.
- Filho?
- Sim, mãe? – levantei-me da cama, sentando-me na beira.
- Desculpa, não sabia que tavas a descansar.
- Não estava.
- Queria falar contigo sobre o que se passou. – disse ao sentar-se ao meu lado – Lutar com o teu amigo por causa de uma rapariga? Que se passa? – perguntou, preocupada.
Tinha-lhe contado a mesma versão que o Rafael contou ao pai para não haver confusões.
- Nada, mãe. – suspirei – Está tudo resolvido agora, foi uma estupidez de adolescentes.
- Filipe, eu sei que o teu pai não está aqui, mas tens me a mim para falares, para o que precisares.
- Oh mãe… Sabes perfeitamente que sempre falei mais contigo do que com o pai! Ele só fala comigo quando vem a Portugal ou eu vou a Londres. Ou quando me dá presentes…
- Filho, não sejas duro com o teu pai. – advertiu-me – Ele está a trabalhar arduamente para termos uma boa vida aqui e poderes ir estudar para Londres como sempre quiseste.
- Eu sei, não sou ingrato, mas custa não o ter aqui. – confessei.
- Todos nós sentimos a sua falta.
Ela levantou-se e deu-me um beijo na testa, saindo do quarto, despedindo-se com um “Cuida de ti”.

No dia seguinte, ao chegar à escola, fiquei na paragem do autocarro à espera do Rafael, tal como tínhamos combinado por SMS na noite anterior.
Cinco minutos depois o seu autocarro chega e ele sai com o seu look de sempre, lindo.
- Bom dia. – diz ao chegar ao pé de mim, a sorrir, meio tímido.
- Bom dia. – respondi sem expressão, confuso pela maneira como ele estava a agir.
Ficámos os dois imóveis até que a paragem ficou vazia. Rafael olha para os dois lados e por fim dá-me um beijo ao de leve nos lábios.
- Desculpa toda esta cena, mas ninguém sabe que não sou heterossexual, além de ti, e eu prefiro que continue assim. A minha família não iria reagir muito bem.
- Tudo bem, eu compreendo, só que podias-me ter avisado sobre o teu pai. Fiz figura de parvo, ontem. – disse, parecendo um pouco chateado.
- Desculpa, amor. – disse Rafael, acabando por rir, fazendo-me rir também.
- Vá, vamos para as aulas. – disse, dando-lhe uma palmada no rabo, algo que sempre lhe quis dar.
- Hum, não sabia que gostavas de palmadas. – sussurrou-me num tom sedutor, aproximando-se de mim.
- Oh, cala-te! – empurrei-o na direção da escola.
- Espera! Queria-te perguntar uma coisa.
- O quê? – perguntei, temendo o pior.
- Vens dormir a minha casa esta noite? Os meus pais estão fora e pensei que era a melhor oportunidade para… nos conhecermos melhor.
Sorri e abracei-o - Claro que vou!
Combinámos então ir para casa dele depois das aulas e passaria lá a noite, voltando à escola no dia seguinte com ele. À hora de almoço falei com a minha mãe e ela aceitou sobre o pretexto que iria fazer um trabalho com ele e desta maneira seria mais fácil fazê-lo, o que era em parte verdade.
As horas passavam lentamente, assim como as aulas, especialmente as da tarde. Quanto mais olhava para o relógio pior era. E os olhares que trocava com o Rafael não acalmavam a minha ansiedade.
- O que se passa, Filipe? Pareces elétrico. – perguntou Raquel a meio da aula de Português, quebrando o meu contacto visual com o Rafa. Ela já sabia de nós os dois, tinha-lhe contado na noite anterior, tinha ficado histérica.
- Hoje vou dormir a casa do Rafa.
- Ui, tá-se mesmo a ver que hoje há festa.
- Oh, cala-te! Achas?
- Até parece que não querias, Lipe. – disse, sublinhando os elementos sintáticos de uma frase.
- Não sei… Tudo depende do rumo que a noite tomar.
- Boa sorte, então! – encorajou-me Raquel.

Finalmente a aula tinha terminado e corri para fora da sala, acompanhado pelo Rafael. A viagem de autocarro pareceu tão curta que quando dei por isso já estava à porta da casa dele.

CONTINUA

Estive no Topo do Mundo

Há muito tempo que não passo por aqui para vos falar da minha simples vida de adolescente. Mas hoje venho vos falar de um acontecimento que se passou na passada terça-feira: fui ao meu primeiro concerto (sim, com 19 anos xD) e o facto mais especial não é sobre ser o primeiro, mas sim sobre de quem é o concerto. DOS IMAGINE DRAGONS! Sabem aquela musiquinha toda positiva do anúncio da Vodafone? São eles que a cantam.
Ora bem, eu mal soube que eles vinham a Portugal, fui-me informar e como os bilhetes eram bastante baratos (22 euros) em comparação a outros concertos, decidi aproveitar a oportunidade. Arrastei a Nevada comigo e lá fomos comprar os bilhetes, isto em fevereiro.
E quando demos por isso já íamos no autocarro em direção aos Restauradores, já que o concerto foi no Coliseu dos Recreios. Como eu tinha aulas de manhã, só chegámos ao Coliseu por volta das 16 horas e já estavam duas filas enormes, mas como eu e a Nevada somos uns espertos, optamos logo pela mais curta, já que o pessoal que chegava ia-se amontoando na mais comprida. Fizemos logo amizades com duas raparigas que estavam lá à espera do concerto que seria às 21h. Concordámos em guardar o lugar, caso alguém quisesse ir dar uma volta. Eu e a Nevada aproveitámos logo e fomos ao Starbucks, beber um frappuccino (delicioso!), depois voltámos ao nosso lugar e tivemos a passar o tempo a conversar e a jogar às cartas. Entretanto uma fila enorme forma-se atrás de nós e começamos a ouvir gritos lá do fundo. Vem uma carrinha preta a descer a rua e avista-se uma mão de fora a acenar, quando a carrinha vira a esquina, repare que o guitarrista da banda está a acenar para nós. Foi o grande momento da tarde, foi muito engraçado, não estava nada à espera.
Por volta das 19h. fomos ao McDonald's do Rossio para jantarmos mas tinha uma filha enorme até à porta. Mas começámos a ouvir o pessoal a dizer que o do Chiado estava acessível, aí fomos nós para o Chiado. Realmente estava menos cheio que o do Rossio, mas ainda estivemos uns 20/30 minutos à espera da comida.
Quando já estávamos servidos, reparei que faltavam 10 minutos para a abertura das portas (20h), começámos a acelerar o passo, Chiado abaixo, a comer que nem uns animais. Chegámos à fila e já estávamos a 10 metros da porta, quando esta abriu e o pessoal caminhou para dentro do Coliseu como uma manada dos animais, felizmente, perto das escadas estava um funcionário a indicar para nos agruparmos em pares, só ao subirmos as escadas e ao passar das portas é que nos validavam os bilhetes e podíamos correr até ao recinto. Quando chegámos lá, nem eu nem a Nevada acreditávamos que estávamos a 5/6 metros do palco. Rapidamente o Coliseu encheu, dando razão ao estado de esgotado dos bilhetes. Eram 21h, o concerto começou com a banda introdutória que tocava uma daquelas músicas todas cheias de barulhos esquisitos (não sou fã), mas pronto dava pra abanar o esqueleto um pouco, embora o espaço para nos mexermos já fosse pouco e o calor começasse a sentir-se.
É então que às 22h a banda sobe ao palco e o público grita com o delírio.
Todo o tempo de espera, todo o cansaço, todos os empurrões, todo o calor, os gritos histéricos, tudo valeu a pena por um concerto espetacular. Eles são extremamente simpáticos, adoraram Portugal e os fãs portugueses, são inspiradores e acho que deliraram com os portugueses a gritarem em alto e bom som as letras das suas músicas. Houve um momento em que o Dan (vocalista) cantou uma música em honra de um fã que morreu de cancro e todo o Coliseu acenava com isqueiros ou telemóveis e no final todos gritámos pelo nome do fã. TYLER! TYLER! Foi um momento comovente que até fez com que os olhos do Dan brilhassem. Mas como todas as coisas boas na vida, o concerto chegou ao fim, com a promessa que voltariam a Portugal. Saí do Coliseu com as pernas a doerem, com a garganta a doer-me e a suar que nem um cavalo, mas valeu imenso a pena, saí de lá com a alma cheia e vibrante.

Aconselho-vos a ouvirem todo o álbum deles, Night Visions, tem letras impressionantes, que me fazem pensar e refletir sobre muita coisa, gosto particularmente da Demons, música que já utilizei no trailer d'As Faces da Mentira.

Deixo-vos com a música da Vodafone, a música que os Imagine Dragons dedicaram a Portugal (eles são bué queridos!)